Capítulo 02 

MARIANA

Sempre, nos quatro anos que morei na pensão, tratei Leticia muito bem, dava boas risadas com ela e às vezes até mesmo ouvia suas confidências. Ela era uma mulher linda, tinha um corpo pequeno e sua altura era de mais ou menos um metro e cinquenta e cinco, o que não somos diferentes porque também sou baixinha, ela tinha curvas e uma barriga bem lisinha. Seus cabelos loiros platinados iam até a cintura, seus olhos azuis e unhas compridas lindas. 

Sabe aquelas mulheres bem delicadas? Essa é Letícia. Não que ela fosse melhor do que eu, pois todos somos iguais e me considero bonita também. Mas ela é linda e sabia mais da vida do que eu. 

Notei o interesse dela no momento em que ela entrou na cozinha, por ser sua colega já a conhecia o bastante podia dizer com toda certeza ela o queria. 

―  Mari, está me escutando? ―  Chamou Cris 

―  Oi! Desculpe, não ouvi pode repetir por favor. 

―  No que estava pensando, assim viajando? 

―  Nada de mais, diga o que quer― Soltei um riso descontraído. 

―  Quero saber de quem Leticia tanto fala, não pude almoçar na Pensão, mas ela foi ao salão e falou pelos cotovelos de um bonitão que chegou aqui. 

Revirei os olhos e me deixei cair na cadeira, se ela o queria, ele então com certeza iria ficar com ela. 

―  Ele é Luiz Fernando, um pensionista novo. ―  Passei minhas mãos pelo cabelo sentindo uma fisgada no corte. ―  Minha tia disse que ele é chefe e que agora vai cozinhar aqui enquanto estiver por aqui. 

―  Como assim? ―  Disse se sentando na mesa― Ele é bonito? Aí conte tudo. 

―  Olá meninas. Tudo bem? ―  A voz de Luiz soou alto nos surpreendendo. 

Cris arregalou os olhos ficando tão vermelha quanto uma pimenta, então sorri na tentativa de fazer Cris relaxar. 

―  Sim estamos, o que deseja? ―  Perguntei 

―  Bom, é que fiz alguns bolos e gostaria que experimentassem, são receitas novas. 

Cris não disse nada, estava pálida e paralisada, então acenei com a cabeça para ela, ela está tão envergonhada que nem mesmo olha para ele, é boba. Porque queria saber se ele era ou não, e agora nem mesmo tirava suas próprias conclusões. 

―  Sim aceitamos. 

Ele sorriu animado e então sumiu, eu e Cris estamos na sala de jantar, havia várias mesas redondas, a porta da rua ficava de frente para o salão, na lateral uma escada que leva aos quartos, sim a casa era imensa. Do outro lado era a cozinha e lavanderia, a luz era bem fraca deixando meio rustico. 

Demorou alguns minutos, então Luiz apareceu com uma bandeja cheia de pedaços de bolo. Senhor da glória, um bolo mais apetitoso que o outro e já estava salivando pra experimentar. 

― Aqui meninas, bom basicamente eu estudei gastronomia, me especializei em confeitaria, mas como queria conhecer o mundo passei a ser mochileiro e a cada lugar eu fazia bico de cozinheiro em restaurantes, deu muito certo e virei Chefe. 

― E como veio parar aqui? ― Cris soltou a pergunta e logo vi sua face ficar mais vermelha que tomate. 

Luiz deu um sorriso largo e sentou na cadeira vazia entre mim e Cris, estava com água na boca para experimentar os bolos, mas voltei minha atenção para a história que Luiz Fernando contava animado. 

― Bom, digamos que meus pais não gostaram muito da minha forma de ser feliz e resolveram que iriam me trazer de volta custasse o que custar, recente meu avô teve um AVC e usaram isso para que eu voltasse, então cá estou. Vamos lá experimentem esse aqui, é de chocolate belga com ganache de chocolate branco. 

Ele estendeu duas fatias perfeitas de bolo, pegamos e a primeira garfada me levou ao céu. 

― Hum. ― Luiz me encarou com um riso de canto de boca, ficando ainda mais bonito com o orgulho que brilhava em seus olhos. ― Isso é…  

― Delicioso! ― Cris completou de boca cheia. 

― Para que são esses bolos? 

― Bom, eu sou fã de doces e resolvi que toda manhã no café farei um bolo. apenas queria saber qual era o seu favorito. ― Disse piscando para mim. 

Não compreendia o que ele queria. Comemos seis pedaços de bolo, pedaços generosos. Todos me fizeram soltar um gemido, o que causou muitos olhares estranhos de Luiz em minha direção. Cris permaneceu bem caladinha e tudo que eu mais queria era que a tortura acabasse. 

― Prontinho e aí, qual vocês querem para amanhã? ― disse levantando e pegando a bandeja com os pratos sujos. 

― Porque só amanhã? não pode ser hoje, sobremesa do jantar? ― Pedi com minha melhor carinha de criança pedindo doce, literalmente. 

― Irei pensar, apenas me digam qual é o melhor. 

― Gostei do de maçã com canela e recheio de Creme de mel. ― Cris disse sorrindo e lambendo os lábios. 

― Eu gostei de todos e por mim comeria todos.  

No mesmo instante chegou uma cambada de pessoas, cheios de bolsas e malas, pelo menos cinco homens e três mulheres. Me Levantei para atendê-los, já que minha tia estava fora resolvendo coisas. 

Mas antes que eu pudesse me mover, Luiz me segurou pelo braço sussurrando em meu ouvido. 

― Depois venha me ajudar na cozinha princesa. 

Um arrepio percorreu meu corpo, não consegui responder, apenas me soltei e segui para a recepção. 

LUIZ FERNANDO

Eu não deveria me oferecer para trabalhar em troca da minha estadia, a ideia era ficar apenas duas semanas e depois sumir novamente no mundo, mas a caipirinha que me fez agir sem pensar também roubou meu coração, me ofereci para cozinhar e Maria a dona da Pensão aceitou óbvio. 

Disse que estava precisando mesmo e que vinha a calhar. Mas o erro maior nem foi esse, foi o fato de me pegar querendo agradar a garota, nunca fui de querer agradar ninguém, para falar a verdade sempre fui livre de amarras, saía com as mulheres e depois de uma noite, sem troca de telefones, sem cobrança e assim facilitou minha vida, pude viajar à vontade. Mas com Mariana era diferente, em poucos dias com ela já me sentia perdido, e com um desejo de estar sempre por perto, sempre que colocava os olhos na garota me pegava imaginando como seria poder namorar e casar com uma mulher assim, além de linda educada e simplória, não que eu não fosse simples, mas ela era, na verdade era ainda mais do que todas as mulheres que me deparei. 

A cada gemida que ela soltava ao experimentar cada fatia de bolo, atingiu diretamente uma parte do meu corpo que pretendia deixar quietinho por mais uns dias. Mas aí chegou cliente e a nossa química se dissipou. Tive que ir para a cozinha frustrado, mas não ia desistir de conhecê-la melhor. 

Passei a tarde preparando o jantar e a pedido da caipirinha mais linda, fiz um bolo para sobremesa. Fiz um que ela não experimentou, porém que sabia exatamente que ela não ia resistir, já que era maravilhoso. Mas a minha ideia não era servir para todos. 

Como faria para ficar sozinho com ela novamente? 

Talvez eu pudesse descobrir qual era seu quarto, ou apenas podia esquecer essa ideia porque não era correto me envolver com uma pessoa inocente como Mariana, ela não fazia o tipo de garota que transa e depois acabou, me conhecia bem e talvez fosse melhor manter distância, pois não queria mexer com os sentimentos ou brincar com o coração de ninguém. 

Na hora do jantar, todas as mesas estavam ocupadas, o lugar estava bem mais cheio que na hora do almoço. Na pensão eles se serviam como queria, então com a ajuda de Maria servimos o jantar. Preparei um arroz de forno maravilhoso acompanhado de salada de couve. Maria era bem ágil e simpática, me convidou para sentar em sua mesa para o jantar, mas o que me deixou bem chateado é que Mariana não estava lá. 

― Onde está Mari? ― Perguntei 

Ela sorriu e olhou a hora no celular. 

― Deve estar vindo a qualquer momento, é que hoje ela me fez um imenso favor, chegaram nove pensionista e ela fez todo o trabalho de recepcioná-los e deixar eles muito bem instalados. Aí subiu para um banho e daqui a pouco ela aparece por aí. 

Cada mesa havia seis cadeiras, além de mim e Maria, chegaram também a loirinha de mais cedo, e uma ruiva de olhos azuis. Sentaram-se conosco e começamos a jantar e bater papo. Contei algumas de minhas histórias e elas adoram, a tal Leticia se jogava o tempo inteiro em cima de mim, tentei evitar o máximo porque detesto mulheres que se jogam dessa forma. Maria me contou um pouco da história da pensão e então a ruiva começou a contar sua história, Janaina seu nome, ela era noiva, manicure, tinha vinte e seis anos, é muito bonita. 

Mas não me contentei com nenhum assunto que surgia, apenas concordava, mas o incômodo de não ver Mariana estava visível. 

― Você está bem Luiz? ― Maria questionou preocupada. 

― Sim estou bem, apenas cansado. 

― Talvez seja melhor ir tomar um banho e relaxar. ― Disse voltando a comer. 

Não respondi, voltei meu olhar para a mesa. O barulho das pessoas conversando estava me dando dor de cabeça e meu humor estava começando a mudar. Se passaram mais alguns minutos e quase todos os pensionistas já haviam se retirado. Restaram  apenas eu Maria e as duas garotas.  

― Bom, acho que vou ir retirar as mesas e depois de lavar a louça irei me deitar. ― Maria disse se levantando. 

Permaneci sentado cabisbaixo e então Letícia passou um papel para minha mão, se levantou e subiu as escadas. Jana estava distraída mexendo no celular então abri o papel. “Se estiver afim, meu quarto é o 15.” Coitada da garota, por mais linda que ela fosse, queria outra pessoa. Amassei o papel e o joguei no lixo. 

― Então, Jana, posso te chamar assim né? ― Ela levantou o olhar e sorriu. 

― Claro, ninguém aqui me chama pelo nome. 

― Queria um favor, eu preciso falar com Mariana, mas ela não desceu para o Jantar, poderia me passar o celular dela ou me dizer onde é seu quarto? 

Ela levantou uma sobrancelha.  

― Óbvio, ― Ela pegou um guardanapo e uma caneta que estava na mesa, e anotou algo no papel.― Aí estão as duas informações, mas sinto em dizer, a essa hora Mari está no telhado. 

― Porque no telhado. 

― É um ritual, ela sempre vê o sol nascer, sempre vê o sol se pôr e então só entra depois de ver as estrelas no céu escuro. 

― Tudo bem, obrigado. 

― De nada. 

Ela se despediu e subiu as escadas, queria ir até ela, mas decidi ir ajudar Maria na cozinha. 

Peguei todos os pratos e copos e levei para a cozinha. 

― O que está fazendo? ― Perguntou assustada 

― Ajudando. 

― Nem pensar, saia. Vá descansar eu mesma farei isso. 

― Mas… 

― Se não sair, irei te jogar água fria. 

Encarei sua expressão, ela estava mesmo falando muito sério, então me retirei. Meu quarto era no primeiro andar, mas me peguei subindo dois lances de escadas, não sei bem como iria para o telhado, então caminhei pelos corredores e acabei encontrando uma varanda onde tinha uma escada, subi os degraus apressadamente e encontrei uma cena que fez meu coração dar uma leve acelerada. 

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